metade sol metade sombra
um poema para Gregório
GREGÓ _ RIO
Eu te associo ao rio que nasceu perene,
forte, impetuoso, largo,
feito braços que se alargam
para abraçar o mundo.
Eu te imagino feito o São Francisco,
rio de vida, de energia e luz
fazendo caminhos, semeando adubo
pelo Nordeste.
Dos teus olhos de céu
vi explodir a ira santa
vi o teu sangue, teu grito na garganta
e me fiz forte diante dos tiranos.
Nas tuas mãos de abrigo
vi fuzis, rosas vermelhas,
acendendo fogueiras
por nós.
Hoje, não vim dizer adeus
nem te pedir que voltes,
És semente, multiplicação,
renasces todo dia,
dentro de nós.
CARTA DO ARAGUAIA
Mãe, aqui no Araguaía fez-se outono,
os Guerrilheiros estão caindo
ensanguentados, no chão,
fazem estrume para a Liberdade.
Mãe, parece que estou vendo
teu corpo lá no canto
feito uma rosa em canteiro,
cercada de amor, de carinho,
tirando da vida espinho
parecendo um jardineiro.
Mãe, eu até te vejo em sonhos
te vejo até acordada
pensando no filho ausente
cuidando no que está presente
com as mãos cheinhas de calo.
Mãe, meu amor por ti é tanto
que sem ti me vem o pranto
sem que eu peça pra vir,
é que saí do teu ventre
e, se hoje me fiz gente,
só posso dever a ti.
Que me ensinaste o caminho
me deixando em liberdade
pra combater, pra lutar
por um mundo de Igualdade,
Justiça, Prosperidade,
feito só do verbo amar.
Mãe, tu dizias que irmão
é o próximo e o distante
dizias que a tirania
enche o povo de agonia,
falavas em libertação.
Mexendo nos meus cabelos,
fazias cachos com o pente
falavas de uma lei
ditada por um tal rei:
"olho por olho, dente por dente" ...