top of page

Ariano Suassuna fala de Hiram de Lima Pereira

(extraído do depoimento ao documentário Lua Nova do Penar)

Conheci Hiram Pereira no Movimento de Cultura Popular – MCP. Quando fundamos o Teatro Popular do Nordeste –TPN,  eu e o querido amigo Hermilo Borba Filho, Hiram juntou-se a nós ,na condição de grande ator que era. A peça de estréia do foi A Pena e a Lei, de minha autoria, no Teatro do Parque, aqui no Recife, em 2 de fevereiro de 1960.  Hiram fez o papel de Padre Antônio.

 

Com o golpe militar, Hiram passou a ser perseguido, por conta de suas ligações com o Partido Comunista. Primeiro, ele se escondeu no Seminário de Olinda. Depois, a pedido de Hermilo e Leda Alves, ele veio se esconder aqui em casa. Veja que coisa curiosa: uma pessoa amiga nossa, que era de extrema direita e tinha um cunhado militar. Chegou sem avisar.

 

Nós estávamos na mesa tomando café, eu, Zélia e Hiram. Agora você veja que tempo miserável era aquele, Sabe o que eu fiz? Eu apresentei como um primo do sertão. Aí quando eu fui levar ele no portão, eu disse: “olha, eu tenho um pedido para lhe fazer: “não fale a ninguém que viu meu primo. Esse meu primo está aqui porque matou uma pessoa em Catolé do Rocha e está aqui em casa escondido”. Ele falou: “Ah! Não tenha cuidado!” Ele era ligado a engenho e deve ter achado até bonito.

 

Depois eu disse a Hiram:  “Hiram veja só a situação como está. É melhor você passar por assassino e criminoso do que por comunista”.

 

Realmente a pessoa não denunciou, mas ele [Hiram] disse: “ô Ariano, tá na hora de eu ir embora, eu já tenho experiência, Quando começa a acontecer esse tipo de coisa assim... a notícia fura e é melhor mudar de esconderijo”.

 

Quando ele me disse que estava de partida, eu lhe disse que não queria saber para onde ele estava indo e confessei-lhe que tinha medo de não resistir a uma possível sessão de tortura e prejudicar a Leda, o Hermilo e Dom Helder.

bottom of page