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por Nagib Jorge Neto

Elogio da Resistência

"Até pouco tempo - lembra -, vigorava o preconceito, na historiografia, de que somente se deveria escrever sobre fatos de passado relativamente remoto, quando as paixões humanas já estivessem arrefecidas, a fim de que o historiador pudesse realizar, num suposto plano de isenção, o julgamento dos homens e das coisas"[110]. Assim rompe com esse conceito e assegura que "os piores deformadores das crônicas humanas são exatamente os que se dizem abstêmios de ação política, aqueles que procuram dissimular, em anunciadas posições de eqüidistância, o ranço de seus sentimentos mais íntimos". Além disso, assegura que não há essa postura neutra e assim se impõe o dever de reconstituir uma fase da história social do seu tempo[111].

Nas memórias, também os episódios engraçados, divertidos, como os de Hiram Pereira. Militante comunista, perseguido pela ditadura, recorria a disfarces e driblava a polícia. Com sua experiência de ator, aparecia em atos políticos ou eventos, ora como pedinte, padre, santo de igreja, fotógrafo. Ou do companheiro, de Caruaru, da área de finanças, que gastou todo o dinheiro recebido de militantes e simpatizantes. Num pastoril, ele resolveu defender as cores do encarnado, perdeu a disputa, e depois tentou explicar a ação desastrada: "a cor, companheiro!", ou seja, o vermelho do cordão encarnado, do partido, que não devia perder para o cordão azul.

No curso da narrativa, em quatro volumes, as ligações de Paulo Cavalcanti com a cultura popular, seu encanto com as manifestações artísticas do povo. Além de recorrer, com freqüência, aos poetas populares, cordelistas e repentistas, Paulo Cavalcanti registra a importância de manifestações como o carnaval, o pastoril, o teatro de bonecos, as danças e ritmos como frevo, maracatu, baião e forró. Na abordagem, a crença de que erudito e popular convergem para o enriquecimento cultural e fortalecem as lutas políticas e sociais.

  
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